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Foto do escritorHelaynne Sampaio

Desafios dos descendentes da tradição aboolá



Em diálogo com descendentes da tradição Aboolá Nagô de Pernambuco situamos os desafios de ser descendente dessa tradição de laço consanguíneo. Incompreendida por muitos que adentram em nosso ilê. Sendo assim, compartilho mais um ensinamento inspirado na minha vivência na tradição Nagô de Pernambuco.


Nascer dentro do terreiro e ser filha da líder da comunidade implica responsabilidades. Implica seguir regras internas do culto aboolá, evoluindo no sentido de se posicionar conforme a líder direciona.


As comunidades de terreiro, criadas e fundadas por pessoas firmes, empoderadas e sábias, escolhidas por sua natureza e ancestralidade para zelar orís. Berço da luta e da resistência pretas. Casa que nutri a vida e a essência de quem chega. Mantida e liderada, segundo a tradição aboolá nagô de Pernambuco, por seus descendentes consanguíneos, sendo que cada comunidade se estrutura de diferentes formas, variando a estruturação dessa passagem de liderança conforme o Ilê. No meu Ilê essa passagem de liderança é matriarcal e a obinrin que assume cria a partir de suas filhas uma nova linhagem.


Desafios é o que também definem ser a continuidade da liderança de uma comunidade de terreiro, não apenas no sentido de conduzir os ritos e as tradições, apesar de ser algo fundamental, mas em administrar relações interpessoais, tal como, desconstruir a ideia de superioridade de uma raça, classe ou bagagem intelectual sob a outra.


A descendente aboolá, por exemplo, ao iniciar sua jornada como cargo ritual, designada ao nascer, também recebe nesse processo feedbacks sobre o seu empoderamento e fala firme enquanto mulher preta e de terreiro, como se antes o empoderamento e a firmeza não pertencessem a sua natureza. Afinal, o que significa ser empoderada e qual a definição de fala firme? Os ensinamentos da minha mãezinha Ìyá Maria Helena Sampaio (Oyá Tundê) dizem que a consciência identitária seja ela verbalizada ou não é definição de empoderamento. Acrescento, que criança é firmeza e empoderamento, ela também nos ensina bastante com as sutilezas de suas ações.


Pontuo que os descendentes aboolá constrói desde bebê a sua consciência identitária nagô por meio dos ensinamentos e das orientações da liderança aboolá e que cada uma/um desenvolve à sua maneira de conduzir e expressar o que foi apreendido sobre os saberes ancestrais, e que é importante respeitar o empoderamento e a firmeza de cada ser, tal como, a sua militância.


Ressalto que as comunidades de terreiro acolhem com afeto e respeito as pessoas de diferentes etnias que se identificam e decidem comungar com a sua fé e devoção aos orixás e ancestrais, iniciando na sua tradição, assim como, designando cargos importantes no Ilê, no entanto, isso não significa ter liberdade para alterar a tradição.


Os meus ancestrais diziam que a pessoa que adentra no terreiro porque sente fé, acredita nos princípios de sua essência, na sua estrutura e como ela foi difundida em nosso país se torna omoorixá e omonilê de êxito espiritual, emocional e material.


Portanto, nascemos empoderadas e firmes. O povo preto e de terreiro é definição de luta, resistência e sabedoria. Não nos deslegitime!



“Axé e Ancestralidade Nagô!” (Ìyá Maria Helena Sampaio).

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